Estou atrasada por nunca ter sido amada?

Existem dois tipos de crianças: as que sempre falam que nunca vão casar ou namorar, e as que parecem estar esperando crescer para que um príncipe encantado aparecesse em suas vidas. Esse princípio não está atrelado ao que realmente será sua vida amorosa no futuro. Mas no meu caso, eu pareço ter sido uma criança profeta, porque eu não poderia estar mais certa, sendo a primeira opção.

Claro, ainda temos uma vida inteira pela frente, mas existe uma parte da expectativa e da autoestima que é quebrada quando você vê algo acontecendo com todos em sua volta, menos com você.

Comigo, essa quebra de autoestima começou de forma superficial e precoce. Sabe aquela parte da infância onde as garotas começam a receber cartinhas, e os meninos querem brincar com elas nos dias de levar brinquedo para a escola? Eu nunca fui essa garota. Contudo, a minha melhor amiga na época era. E isso era empolgante. Assim, eu sabia o que estava escrito nas cartinhas. Assistia às coisas acontecerem, como quando queriam que ela fosse seu par na festa junina, ou lhe davam chiclete escondido da professora.

Nada mudou desde então. E, à princípio, a falta dessa interação não me afetou em nada. Mas na adolescência é inevitável. Mesmo que você não necessariamente se importe com sua vida amorosa - ou a inexistência dela - ainda é inevitável achar que tem algo de errado.

Não é mais um caso isolado. Não são mais cartinhas. E as vezes, algumas coisas parecem girar em torno disso. Como quando você faz uma amizade mas a pessoa só sabe falar da vida amorosa, e a conversa deixa de ser uma conversa, porque você não tem uma para falar também. 

Ou quando você já espera não ser a pessoa que receberá olhares, e inconscientemente tem dias que isso faria com que você se sentisse melhor. Claro, não é como se isso fizesse com que você fique triste quando uma amiga arranja um namorado, pelo contrário, você sempre fica feliz pelas outras pessoas. Mas você sabe que isso não vai acontecer com você, pelo menos não por enquanto.

Então, você assiste filmes e lê livros, que só aumentam suas expectativas sobre o amor. Isso, de certa forma, tem me ajudado, na verdade. Com expectativas altas, eu não me preocupo tanto com o fato de nunca ter sido a amiga bonita, porque isso me fez perceber que eu não aceitaria muitas das coisas que vi minhas amigas aceitando ao longo do tempo. 

Mas mesmo com uma junção de todos esses fatores, continua sendo inevitável achar que tem algo de errado. E não é com as pessoas a sua volta, é com você. Claro, nos dias de hoje o amor é raro. A traição é meramente normalizada, as pessoas tendem a “ficar” e não namorar para não entrarem em um relacionamento sério. Mas ainda assim, mesmo com tudo isso acontecendo à sua volta, você ainda sente mal.

“Quando isso vai acontecer comigo? Quando será a minha vez?” 

Eu me sinto a mais forte integrante da coitadolandia quando esses pensamentos começam. Afinal, pra que ter a preocupação com a vida amorosa quando o mundo parece desmoronar a sua volta? E mesmo assim, os pensamentos continuam.

Então, por que na adolescência nós temos tanta necessidade de sermos amadas? Romanticamente e platonicamente.

Talvez isso esteja atrelado à busca constante por aprovação, proveniente da cobrança. Você se esforça para tirar notas boas, para ser uma filha boa, para ter um hobby, para ser boa em algo. Você se esforça para sair da cama, para fazer afazeres básicos. Você se esforça para parar de procrastinar, se esforça para se sentir bonita, se esforça para parar de pensar demais, planejar demais, querer demais.

E quando vê, isso ainda não é o suficiente. Você quer mais, quer aquilo que nunca teve. 

Obviamente, existiriam respostas mais rápidas e compreensíveis para isso, mas eu sempre busco ter um ponto de vista mais interno. Às vezes, você só quer um namorado porque tem vontade de amar. Mas às vezes, você só quer ser amada. E é aí onde tudo que eu disse faz sentido.

As pessoas não amariam pessoas que desaprovam todas as suas ações, falas, que não gostam dos momentos passados ao seu lado. Para ser amada, você tem que ser aprovada. Sua presença tem que fazer a diferença. E isso é importante. Significa que você fez algo certo, então a ideia de ter alguém para deixar isso claro é encantadora.

É como se você estivesse procurando por algo que mostre ao mundo e a você que não tem nada de errado. Que a sua falta de autoestima pode ser aceita, você sem maquiagem pode ser aceita, que suas grosserias com as pessoas que te irritam não te tornam rude, e podem ser aceitas. Nesse contexto, o aceitar é amar. Você quer saber que pode ser amada, porque nunca experimentou isso.

E você experimentou quase tudo, tentando ser boa em alguma coisa. Você falhou como filha, ao ser grossa com sua mãe - mesmo que ela também tenha sido, afinal, vocês são humanas. Você falhou como aluna, quando tirou uma nota ruim na matéria que era boa quando criança. Você falhou. E quer mais uma tentativa, uma diferente de tudo aquilo.

Estou usando exemplos muito específicos, que talvez a maioria das pessoas que lerem isso - se alguém ler - não se identificariam. Mas para as que se identificaram, que essa perspectiva seja capaz de cessar suas incansáveis tentativas.

Então, não tem nada de errado em você. Tentando provar para si mesma que consegue ser amada, não se esqueça de que isso significa também amar. Não faça coisas que não faria ou deveria porque quer ser amada, não aceite pouco. Não é isso que significa o amor, tem algo de errado com o mundo por fazer com que pensemos isso.

Não procure aprovação, nunca será o suficiente se você não se aprovar primeiro. Você não precisa do amor romântico, você precisa do amor próprio.

A sua vez vai chegar quando for o tempo.

Para as garotas The Prophecy.