Todas as minhas amigas me odeiam?

Existem situações diárias na convivência com nossos amigos que nos levantam um amontoado de pensamentos em comum: “E se todos eles não gostam de mim mas conversam comigo por dó?” ou então, “E se naquela hora eu estava sendo chata”, “Será que fui uma amiga ruim por ter falado muito?”. Isso, como quase todos os questionamentos que temos, é relacionado ao amor próprio. Você se considera legal? Acha que merece estar rodeada das pessoas que te cercam? Você gosta delas? Se sente verdadeiramente incluída?

Eu sempre fui uma criança que tentava constantemente fazer as pessoas ficarem na minha vida. Acho que existe uma diferença entre as garotinhas que mandavam nas outras crianças e as que seguiam elas. Eu era uma seguidora. Sempre chorava quando minha melhor amiga de infância brigava comigo.

Consequentemente, eu me tornei uma adolescente que parece estar em uma luta árdua para fazer com que eu não pense o tempo todo que estão todos saindo lentamente da minha vida, e que estariam melhores sem mim. Ou talvez, isso seja apenas uma tentativa de me convencer de que nem todos que se afastaram fizeram isso por minha culpa.

Quando uma coisa acontece mais de uma vez, sempre acabamos pensando “E se o problema for eu?”. E esse pensamento se torna incessante até que você vê tudo se repetindo outra vez, e outra. Talvez o meu erro seja tentar demais.

Talvez, seria melhor se eu simplesmente deixasse que as coisas acontecessem naturalmente, não é? Que toda resposta não fosse meticolosamente pensada, cada piada feita apenas com quem eu tenho certeza que irá rir, que eu abraçasse apenas quem me abraçaria sem que eu precise abrir os braços primeiro. Talvez tudo seria melhor se eu considerasse as pessoas da mesma forma que elas me consideram.

Mas é difícil. Você se lembra da vez que falaram para você algo que você nunca diria a ninguém? E aquela frase veio de quem você chamava de amiga, não veio? E quando vieram te falar que ela estava falando mal de você? Você teria feito isso também? Ou então, você teria deixado de tentar passar uma hora na companhia da sua melhor amiga porque “Eu achei que você não ia poder ir”? Não. Você teria chamado ela, porque a companhia dela faria diferença para você, mas a sua não fez para ela.

E então, você continua falando com ela, porque é melhor lidar com um pouco de falsidade do que com o peso do fim de um ciclo. O peso da nostalgia melancólica que você vai carregar, pois os momentos bons sempre serão mais fortes do que a sua decepção. Não porque o que ela fez não foi errado, mas porque você achou que tinha feito algo de errado para justificar as atitudes dela. “Eu não ia poder ir mesmo, então porque ficar triste por não ter sido chamada?”. Mas isso vai muito além.

Eu costumo dizer que a amizade tem dois pilares principais: A consideração e a conexão. A conexão pode ser instantânea, como quando você conhece alguém e automaticamente vira amiga dela, mas sem consideração, a conexão não é nada.

A conexão nunca vai ser inteiramente verdadeira depois da falta de consideração. Mesmo que você continue tentando consertar algo que não foi culpa sua. Mas depois de um fim triste com uma amizade que importava muito, tudo o que você quer é não ter que passar por isso de novo. Depois de um abandono, você sabe que talvez não aguentaria essa dor mais uma vez.

E então, você se afasta das pessoas antes que elas possam te machucar ou tenta incansavelmente fazê-las ficar?

Você vai sair machucada das duas formas. Se afastar antes, conviverá com a culpa de ter feito isso por conta própria. Talvez você tenha acabado antecipadamente com algo que poderia ter sido duradouro, mas se você tentar fazer alguém ficar, seu esforço nunca vai ser o suficiente. E você vai acabar carregando a culpa de achar que não tentou o suficiente.

Recentemente, percebi um padrão dentre as pessoas que se afastam de mim. Elas sempre se aproximam de alguém que querem parecer. Alguém que tem o estilo que querem ter, que vão para lugares que querem ir, alguém que sempre fala aquilo que elas querem ouvir. E então, eu acabo ficando para escanteio. A amiga que vai passar o intervalo com você quando sua nova melhor amiga faltar. Talvez isso seja apenas uma impressão gerada pela insegurança, mas tem parecido cada vez mais real. As pessoas querem estar perto de quem querem parecer.

Mas eu não consigo evitar sentir que é uma grande superficialidade. Porque eu carrego comigo lealdade e esperança nas pessoas. Eu acredito nelas quando dizem que são minhas amigas, porque eu sou cheia de paixão pelas amizades que faço. Eu me apaixono por cada momento que passo ao lado das pessoas, e me torno leal à elas, com toda a intensidade que carrego. Mas ainda sim, elas acabam dando preferência para quem é aquilo que querem ser e falam o que querem ouvir.

Por fim, todos os questionamentos anteriores acabam virando um só: “Todas as minhas amigas me odeiam?”. A resposta certa, provavelmente seria “Você tem que se amar para saber como ser amada”, e só assim, sabendo como ser amada, você saberia quem realmente te ama. Mas se esforçar em você, ouvir seus próprios pensamentos, ter autoconhecimento, tudo isso exige mais esforço do que lidar com as pessoas.

Por isso, acabamos sempre nos sujeitando as pessoas. “Nós aceitamos o amor que achamos merecer”